terça-feira, 20 de agosto de 2013

A ESCRITURA & A CURIOSIDADE HUMANA: BREVES ANOTAÇÕES - Por: Heber Bertucci


“O estudo da verdade religiosa deveria ser empreendido e continuado com base no senso de dever, tendo como escopo o aprimoramento do coração.” – Dagg, John L.  Manual de Teologia.  2. ed.  São José dos Campos – SP: Fiel, 1998.    p. 1.
“O propósito divino não é satisfazer a nossa curiosidade, e, sim, ministrar-nos instrução proveitosa.” Calvino, João.  As pastorais.  Tradução de Valter G. Martins.  São Paulo – SP: Paraklestos, 1998.  Comentário de I Tm. 2:14, p. 233.
“O ser essencial de Deus devemos adorar, não pesquisar com curiosidade.”Calvino, João. Apud Costa, Hermisten M. P. da.  Anotações sobre a hermenêutica de Calvino: compreensão a serviço da piedade e do ensino.  São Paulo – SP, Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, Maio de 2006.  f. 79.  [Trabalho não publicado].

Introdução

Charles Haddon Spurgeon (1834 - 1892) certa vez disse que “Nenhum tema contemplativo tende a humilhar mais a mente do que os pensamentos sobre Deus.” [1] Alias, segundo ele, este assunto, ao mesmo tempo em que “... humilha a mente, ele também a expande.” [2] Estas palavras certamente deixam felizes e realizados todos os que a ouvem, exceto, talvez, por uma palavra simples que ele usa: “contemplativo”. É isso mesmo: ele diz que os pensamentos sobre Deus são um “tema contemplativo”. É sobre este assunto que eu quero me ater aqui por algumas linhas.

I – O Papel da Contemplação na Vida Cristã

Um fato muito fácil de ser notado é que o homem moderno se empolgou tanto com a tecnologia que ele acabou criando uma “... certa mentalidade mecanicista, pragmática, [3] ativista, que colocou de quarentena o contemplativo.” [4] A consequência disso é que ele “De tal modo se deixou empolgar pelo fazer, que perdeu a perspectiva do ser”. [5] Já no passado, Jesus Cristo, enquanto esteve na terra, condenou esta filosofia de vida, e um dos textos que vemos isso é o da parábola registrada na história de Lc. 12:13 – 21. Nesse texto lemos que um homem pede para que Cristo ordene a seu irmão que reparta a herança com ele. A lição de Jesus àquele homem e o centro do ensino da parábola está no v. 15: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.” Este verso consiste na meta que todo cristão verdadeiro deve realizar em sua vida. Contra este ensino, a mentalidade do homem rico da parábola está registrada no v. 19: descansa, come, bebe e regala-te.” (v. 19). Percebemos com esta história que o lema daqueles que se apegam a visão mecanicista é que o presente deve ser aproveitado e que nossa alma deve se regalar com seus bens e descansar neles. Eles colocam de lado o que há de mais essencial na vida: o lado contemplativo.
O que é ser contemplativo? Eduardo P. de Mendonça diz que “A ideia comum de vida contemplativa é a de um afastamento da realidade, a de uma vida de abstração, ou, para usar uma palavra ao gosto da época, a de uma alienação. E, no entanto, a contemplação não se opõe radicalmente à ação: ela se prova mesmo na ação”. [6] Desta forma, ser contemplativo é meditar sobre assuntos sérios, assimilar esses conteúdos e aplicar na vida ética do indivíduo. E o que é meditar? De acordo com o Teólogo inglês James I. Packer, “Esta é uma boa pergunta, pois a meditação é uma arte esquecida hoje em dia, e o povo cristão sofre dolorosamente por ignorar sua prática.” [7] Segundo ele, “Meditação é o ato de trazer à mente as várias coisas que se conhece sobre as atividades, os modos, os propósitos e as promessas de Deus; pensar em tudo isso, refletir sobre essas coisas e aplicá-las à própria          vida.” [8] Percebemos com esta definição que a meditação não é algo meramente teorético, mas, deve ser também algo prático. Meditar é refletir sobre os assuntos a respeito de Deus.
O que é refletir? “A palavra reflexão vem do verbo latino reflectere, que significa voltar atrás.” [9] Refletir, portanto, é rever as suas próprias considerações e ações, e determinar se seu método ou ética foram alcançados. Nas palavras do filósofo italiano Nicola Abbagnano (1901 – 1990), a reflexão consiste no “... ato ou o processo por meio do qual o homem considera suas próprias ações.” [10] Por ser um meio de revisar as suas ações, é certo que a reflexão crítica está dentro de uma das principais atividades do homem que é moralmente consciente. O Teólogo norte-americano John Dagg (1794 - 1884) diz que “Nossas mentes foram constituídas de tal maneira que somos capazes de perceber uma certa qualidade moral nas ações, podendo nós aprova-las ou desaprová-las.” [11] Desta forma, a consciência de se fazer o que é certo traz um dos nossos mais elevados prazeres, enquanto que a angustia do remorso por causa de alguma maldade que se fez é tão intolerável quanto outro sofrimento qualquer que o coração humano possa sentir. [12]
Vemos, então, que a contemplação é intimamente ligada à ideia de “meditação” e de “reflexão”. “A vida contemplativa é esta que se dirige à tomada de possa de si mesmo, à clareza de consciência, ao domínio da vontade, ao discernimento intelectual.” [13] Ela não pode se fechar a apenas se envolver imaginativamente com a vontade, “... pois o excessivo exercício da função fabuladora, o pensamento que se arrasta nos voos da imaginação despoliciada a sacrifica e entibia”. [14] Na Teologia, a meditação não pode ser meramente imaginativa, pois, “Quando a doutrina religiosa é considerada meramente como objeto de especulação, a mente não se contenta com a verdade simples, conforme ela pode ser encontrada em Jesus, mas corre atrás de questões sem proveito e acaba se enredando em dificuldades das quais é incapaz de desvencilhar-se.” [15] A consequência disso é o ceticismo [16] de               muitos. [17]

II – A Curiosidade Como Motivação Para o Estudo da Escritura

Uma das lutas dos expositores da Bíblia é fazer com que a Igreja assimile a ideia de que o estudo das Escrituras não combina com a curiosidade humana no sentido de ser esta curiosidade o único motivador para este estudo. John Dagg (1794 - 1884) diz que “Estudar teologia com o propósito de satisfazer à curiosidade ou de preparar-se para uma profissão, seria um absurdo, uma profanação daquilo que precisa ser considerado como extremamente santo.” [18] E ele diz mais: “Aprender as realidades referentes a Deus meramente  (...) a fim de satisfazer o mero amor ao conhecimento é tratar o Altíssimo com desdém.” [19] De Deus não se zomba, diz o apóstolo Paulo (cf.: Gl. 6:7), logo, tratar a sua verdade com desdém não é sábio, pois, “A verdade que poderia salvar e santificar as suas almas é por eles intencionalmente rejeitada, por não satisfazer à sua imensa curiosidade e, tampouco, solucionar todas as suas perplexidades.” [20] Por isso muitos a abandonam: porque se sentem incapazes de a explicar. [21] Mas, “Se dermos início à nossa inquirição pela verdade religiosa movidos pelo senso do dever [22] e com o propósito de fazer o melhor uso possível dessa verdade, podemos estar certos do êxito.” [23] Observe as palavras de Jesus em Jo. 7:17Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo.” Portanto, “... o senso do dever, sob o qual haveremos de agir, não nos impulsionará para além desse limite”: [24] a Escritura Sagrada.
Tomas de Aquino (1225 – 1274), ao falar da crise de autoridade que já dominava a sua época, disse que uma das razões pelas quais é difícil refutar todos os erros “... é que alguns dos autores desses erros, como os maometanos e os pagãos, não concordam conosco no reconhecimento da autoridade das Sagradas Escrituras, mediante as quais poderíamos convencê-los”. [25] Segundo ele, isso não acontece nem com os judeus e nem com os cristãos heréticos, pois, se com aqueles, nós “... podemos discutir à base do Antigo Testamento”, [26] com estes, nós “... podemos discutir com base nos escritos do Novo Testamento.” [27] Com base nessa crise de autoridade, tão atuante na modernidade quanto foi na época de Tomás de Aquino (1225 – 1274), creio ser a solução desafiadora de Gleason L. Archer, Jr. satisfatória. Ele afirma que para começarmos um estudo do Antigo Testamento, nos é apropriado perguntar: “que tipo de livro é?”. Há duas possibilidades: ou é um produto humano ou divino.
Archer, Jr. diz que “Se é meramente um produto do gênio humano, como muitos outros documentos nos quais têm-se fundamentado várias religiões, então os dados que apresenta precisam ser tratados de uma maneira específica.” [28] Isso significa que a abordagem que parte do pressuposto que os 39 livros do Antigo Testamento (e consequentemente, toda a Escritura Sagrada), são produto do gênio humano, deve ter o seu próprio método de interpretação destes livros. E qual seria este método? É aquele que ensina que “... estas escritas sagradas precisam ser aquilatadas em termos puramente literários, e explicações naturalísticas [29] precisam ser achadas para cada aspecto que parece ser sobrenatural (como por exemplo o cumprimento de profecias).” [30] Mas, se “... os trinta e nove livros do Antigo Testamento são inspirados por Deus, empregando instrumentos humanos para registrar a verdade que Ele revelou ao homem, então os dados precisam ser tratados de maneira bem diferente.” [31] Que maneira seria esta? Archer, Jr. responde: “Isto quer dizer que tudo aquilo que possa parecer inconsistente com aquele padrão de exatidão e de veracidade que a inspiração divina pressupõe, precisa ser investigado com grande cuidado para se chegar a uma reconciliação satisfatória daquilo que parece ser discrepância.” [32] O que este método de interpretação pressupõe é que a Escritura Sagrada é superior ao homem porque ela tem a sua origem em Deus.
O teólogo presbiteriano Charles Hodge (1797 – 1878) afirma que os homens têm verdades que são adquiridas por sua intuição, por causa de serem eles criaturas morais e intelectuais. Mas, acima disso, Hodge (1797 – 1878) exalta o poder controlador que o Espírito Santo de Deus exerce sobre estas crenças. Para ele

Não podemos presumir que esse ou aquele princípio seja intuitivamente verdadeiro, ou que essa ou aquela conclusão possa ser demonstrada correta, e transformá-los num padrão ao qual a Bíblia se conforme. Qual seja a verdadeira auto-evidência, ela tem que ser provada como tal e ser sempre reconhecida na Bíblia como verdadeira. [33]

Isso só será possível, no entanto, com o auxílio do Espírito Santo de Deus que é responsável não para nos dar a revelação de novas verdades, mas sim, de iluminar nossas mentes para que apreendamos a verdade, a excelência e a glória das coisas já reveladas.

A Bíblia nos fornece não apenas os fatos concernentes a Deus, a Cristo e a nós mesmos em nossa relação com nosso Criador e Redentor, mas também registra os efeitos íntimos dessas verdades na mente dos crentes. De modo que não podemos apelar para nossos próprios sentimentos ou nossas experiências interiores como fundamento ou guia, a menos que possamos mostrar que eles concordam com a experiência de homens santos conforme registrada nas Escrituras. [34]

O reformador João Calvino (1509 – 1564) reverencia o estudo de Deus com a mesma ênfase de John Dagg (1794 - 1884). Para ele, conhecer sobre Deus não deve ser sinônimo de satisfazer a nossa curiosidade pecaminosa. Primeiramente, ele ensina que “Quase toda a suma de nossa sabedoria, que deve ser considerada a sabedoria verdadeira e sólida, compõe-se de duas partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos. Como são unidas entre si por muitos laços, não é fácil discernir qual precede e gera a                outra.” [35] Para que o homem chegue a um conhecimento puro de si mesmo, ele deve contemplar “... a face de Deus, e, dessa visão, desça para a inspeção de si mesmo.” [36] Mas, o que é conhecer a Deus? É “... não só conceber que algo seja Deus, mas também compreender o que, no conhecimento acerca d’Ele, nos convém saber, o que é útil para sua glória e, por fim, o que é necessário.” [37] Percebemos que para o reformador o conhecimento de Deus deve nos levar a conhecer o que é útil para a sua glória e também o que é necessário. É por isso que para ele conhecer a Deus não pode apenas servir para o propósito de satisfazer a nossa curiosidade pecaminosa. Antes, “... conhecê-lo deve valer primeiro para nos instituir ao temor e à reverência, depois para que, por esse conhecimento, aprendamos a pedir a Ele todo o bem [38] e a Ele atribuir o que recebemos.” [39]
No capítulo que fala sobre “A Eleição Eterna, Com a Qual Deus Predestinou a uns Para a Salvação e a Outros Para a Perdição”, João Calvino (1509 – 1564) enfatiza que esse tema, e, consequentemente todas as doutrinas da Escritura, não devem ser estudados apenas para satisfazer a curiosidade humana. Ele diz que “Como o tema da predestinação é de certa forma obscuro em si, a curiosidade dos homens o torna muito perigoso. [40] A dificuldade é que “... o intelecto humano não se pode refrear, nem, por mais limites e termos que se assinalem, deter-se para não se extraviar por caminhos proibidos e elevar-se com afã, se lhe fosse possível, de não deixar segredo de Deus sem resolver e esquadrinhar.” [41] O problema é que “... são muitos os que caem nesse atrevimento e desatino”. [42] Para inibi-los deste erro, Calvino (1509 – 1564) lhes ensina a como conduzir este tema: “... se lembrem de que, quando querem saber os segredos da predestinação, penetram no santuário da sabedoria divina, no qual todo aquele que entra com ousadia não encontra como satisfazer sua curiosidade e mete-se num labirinto do qual não pode sair.” [43] Depois, mais uma vez adverte: “E se a curiosidade de nosso intelecto nos incita, tenhamos sempre em mente, para retê-la, aquela admirável sentença  (...)  (Pv 25,27). Pois temos motivo para detestar esse atrevimento, já que não pode fazer outra coisa senão nos precipitar na ruína.” [44]
O limite para o conhecimento a respeito de Deus é sempre a sua Palavra Santa: “... a Escritura é a escola do Espírito Santo, na qual nem se deixou de pôr coisa alguma necessária e útil de conhecer, tampouco se ensina mais do que é preciso saber.” [45] Ao comentar o texto de II Tm. 3:16 em que Paulo diz: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”, Calvino (1509 – 1564) diz que o apóstolo “Primeiro, recomenda a Escritura por causa de sua autoridade; e, a seguir, por causa do benefício que dela advém.” [46] Deus nos fala na Escritura por intermédio de seu Espírito e este fato é

... o princípio que distingue a nossa religião de todas as demais, ou seja: sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente convictos de que os profetas não falaram de si próprios, mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual foram do céu comissionados a declarar. [47]

Depois, Calvino (1509 – 1564) diz que todos os que querem se beneficiar das Escrituras devem ter este princípio em mente: “que a lei e os profetas não são ensinos passados adiante pelo bel prazer dos homens ou produzidos pelas mentes humanas como sua fonte, senão que foram ditados pelo Espírito Santo.” [48] E quem nos garante que a Escritura é a escola do Espírito porque foi inspirada por Deus? Segundo Calvino (1509 – 1564) é o próprio Espírito. Ele diz: “O mesmo Espírito que deu certeza a Moisés e as profetas de sua vocação, também agora testifica aos nossos corações de que ele tem feito uso deles como ministros através de quem somos instituídos.” [49] E por que há os que duvidam da autoridade da Escritura? Calvino (1509 – 1564) responde que é exatamente por lhes faltar a iluminação do próprio Espírito: “Pois ainda que a majestade divina esteja exibida nela, somente aqueles que têm sido iluminados pelo Espírito Santo possuem olhos para ver o que deveria ser obvio a todos, mas que, na verdade, é visível somente aos eleitos.” [50]
Com esse pressuposto em mente, o cristão deve abrir “... seus ouvidos e seu intelecto a todo raciocínio e às palavras que Deus quis lhe dizer, contanto que o cristão use tal temperança e sobriedade, que, tão logo veja que o Senhor fechou sua boca sagrada, pare ele também e não leve adiante a sua curiosidade, fazendo novas perguntas.” [51] Portanto, o limite de nossa sobriedade é que “... ao aprender, sigamos a Deus, deixando-o falar primeiro; e, se o Senhor deixar de falar, tampouco nós queiramos saber mais ou passar adiante.” [52] Por fim, Calvino (1509 – 1564) diz que devemos evitar dois erros: a excessiva curiosidade ou o menosprezo à Palavra de Deus:

... desejo apenas conseguir de todos os homens em geral que não esquadrinhemos nem queiramos saber o que o Senhor escondeu e não deseja que se saiba; e que não menosprezemos o que Ele nos manifestou e declarou com sua Palavra; para que, por um lado, não sejamos condenados por nossa excessiva curiosidade, e, por outro, por nossa ingratidão. [53]

Na segunda parte de seu comentário do texto de II Tm. 3:16, João Calvino (1509 – 1564) diz que quando Paulo escreve que “Toda a Escritura é  (...)  útil”, ele tem em mente que “... a Escritura contém a perfeita norma de uma vida saudável e feliz.” [54] Sendo assim, há um mau uso pecaminoso toda vez que a utilidade da Escritura não é buscada nela própria. “E assim, ele indiretamente reprova as pessoas levianas que estavam alimentando outras pessoas com vãs especulações com ar. Por esta mesma razão podemos hoje condenar a todos aqueles que, sem nenhuma preocupação pela edificação, comovem com muita arte, sim, porém com questões sem qualquer proveito.” [55] Por fim, Calvino (1509 – 1564) nos diz porque Deus nos concedeu as Escrituras: “Ao dar-nos as Escrituras, o Senhor não pretendia nem satisfazer nossa curiosidade, nem alimentar nossa ânsia por ostentação, nem tampouco deparar-nos uma chance para invenções místicas e palavreado tolo; sua intenção, ao contrário, era fazer-nos o bem.” [56] Este bem é nos guiar ao que é proveitoso, ou seja, ao ensino da sua própria Palavra.

Considerações Finais

Com tudo o que foi dito, percebemos que é essencial evitar o estudo das Escrituras Sagradas apenas para satisfazer uma mera curiosidade pessoal. Esta curiosidade é pecaminosa porque “... em geral ocasiona especulações esdrúxulas e facções.” [57] Este tipo de curiosidade não deve ser a nossa motivação para o estudo, antes, devemos estudar as Escrituras porque “A Bíblia como Palavra inspirada e inerrante de Deus, dá ao homem a resposta adequada à suas necessidades espirituais de que tanto carece, apontando para Jesus (Jo 5.39) e para o poder de Deus.” [58]



Itatiaia, 10 de agosto de 2013.
Reverendo Heber Ramos Bertucci
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Notas:

[1] Charles H. Spurgeon apud Packer, James I.  O conhecimento de Deus.  Tradução de Cleide Wolf.  7. ed.  São Paulo – SP: Mundo Cristão, 2001.  p. 9.
[2] Charles H. Spurgeon apud Ibid., p. 10.
Depois Charles Haddon Spurgeon (1834 - 1892) ainda diz que “Nada alargará mais o intelecto, nada expandirá mais a alma do homem do que a investigação dedicada, ansiosa e contínua do grande tema da Divindade.” (Charles H. Spurgeon apud Ibid., p. 10).
[3] De acordo com Russel Norman Champlin “O termo pragmatismo deriva-se do termo grego prágma, ‘coisa’, ‘fato’, matéria’. Sua forma verbal é prassein ‘realizar’.” (Pragmatismo.  In: Champlin, Russel Norman.  Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia.  6. ed. São Paulo – SP: Hagnos, v. 5 (P - R), 2002.        p. 352). Battista Mondin fala que “... o princípio sobre o qual se funda o pragmatismo é justamente o que faz do conhecimento mero instrumento de ação e que, consequentemente, resolve o critério da verdade das diversas teorias no seu sucesso prático.” (Mondin, Battista.  Curso de filosofia: os filósofos do Ocidente.  Tradução de Benôni lemos.  9 ed.  São Paulo – SP: Paulus, 2005.  v. 3, p. 151). João Paulo II (1920 – 2005), apontando alguns erros da era moderna, ensina que “Portador de perigos não menores é o pragmatismo, atitude mental própria de quem, ao fazer as suas opções, exclui o recurso a reflexões abstratas ou a avaliações fundadas sobre princípios éticos. As consequências práticas que derivam desta linha de pensamento são notáveis.” (João Paulo IIFides et Ratio.  9. ed.  São Paulo – SP: Paulinas, 2006.  Vol. 160, VII, 1, 89, p. 119.  [Dado em Roma no dia 14 de Setembro de 1998]).
[4] Mendonça, Eduardo P. de.  O mundo precisa de filosofia.  8. ed.  Rio de Janeiro – RJ: Agir, 1987.             p. 17.
[5] Ibid., p. 17.
[6] Mendonça, Eduardo P. de.  O mundo precisa de filosofia, p. 17 – 18.
[7] James I. Packer, O conhecimento de Deus, p. 15.
Observemos o uso da palavra hebraica traduzida por meditação no Sl. 1:2Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.O termo que o salmista usa aqui é hg'h' que tem o sentido básico de “som baixo”, como, por exemplo, o arrulhar de uma pomba (cf.: Is. 38:14 “gemia” = hG<ßh.a,), ou o rugido de um leão após capturar a sua presa (cf.: Is. 31:4“rugem” = •hG<h.y<). Um uso positivo desse termo é o meditar na Palavra de Deus, o que deve acontecer de dia e de noite (cf.: Js. 1:8“medita” = t'ygIÜh'w>; Sl. 1:2“medita” = hG<©h.y<). “Talvez as Escrituras fossem lidas a meia voz durante o processo de meditação. O salmista também fala sobre meditar em Deus (Sl 63.6[8]) e em suas obras (77.12[13]; 143.5).” (Herbert Wolf.  hg'h'Harris, R. Laird; Archer, Jr., Gleason L.; Waltke, Bruce K.  Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.  Tradução de Márcio L. Redondo, Luiz A. T. Sayão e Carlos O. C. Pinto.  São Paulo – SP: Vida Nova, 2005.  p. 337).
[8] James I. Packer, O conhecimento de Deus, p. 15.
[9] Piletti, Claudino; Piletti, Nelson.  Filosofia e história da educação.  10. ed.  São Paulo – SP: Ática, 1993.  p. 13.
[10] Reflexão.  In: Abbagnano, Nicola.  Dicionário de filosofia.  Tradução de Alfredo Bossi e Ivone C. Benedetti.  5. ed.  São Paulo – SP: Martins Fontes, 2007.  p. 986.
[11] Dagg, John L.  Manual de Teologia.  2. ed.  São José dos Campos – SP: Fiel, 1998.  p. 4.
[12] Cf.: John L. Dagg, Manual de Teologia, p. 4.
[13] Eduardo P. de Mendonça, O mundo precisa de filosofia, p. 18.
[14] Ibid., p. 18.
[15] John L. Dagg, Manual de Teologia, p. 1.
[16] Norman Geisler e Paul D. Feinberg afirmam que “Mais provavelmente, o ceticismo como metodologia filosófica foi desenvolvido pelos líderes da Academia de Platão no século III a.C. Os acadêmicos, conforme eram chamados, rejeitavam as doutrinas metafísicas e místicas de Platão. Pelo contrário, concentravam-se naquilo que consideravam supremo na observação de Sócrates: ‘Tudo quanto sei é que nada sei’. Além disso, procuravam desenvolver o método socrático e sua tática de fazer perguntas.” (Geisler, Norman L.; Feinberg, Paul D.  Introdução à filosofia: uma perspectiva cristã.  Tradução de Gordon Chown.  2. ed.  São Paulo – SP: Vida Nova, 2000.  p. 68).
[17] Cf.: John L. Dagg, Manual de Teologia, p. 1.
[18] Ibid., p. 1.
[19] Ibid., p. 1.
[20] John L. Dagg, Manual de Teologia, p. 1 – 2.
[21] Cf.: Ibid., p. 2.
[22] Dagg (1794 - 1884) diz no início de sua obra que “O estudo da verdade religiosa deveria ser empreendido e continuado com base no senso do dever, tendo como escopo o aprimoramento do coração. Uma vez aprendida, essa verdade [religiosa] não deveria ser guardada em uma estante, como se fosse um objeto de pesquisa; mas deveria ser implantada profundamente no coração, onde o seu poder santificador pode ser sentido.(Ibid., p. 1.  [Grifo Nosso]).
[23] Ibid., p. 2.
[24] Ibid., p. 2.
[25] Aquino, Tomás de.  Súmula contra os gentios.  Tradução de Luiz João Baraúna.  In: Aquino, Tomás de; Alighieri, Dante.  Seleção de textos.  Tradução de Luiz J. Baraúna; Alexandre Correa; et al.  São Paulo – SP: Nova Cultural, 1988.  Cap. 2º, p. 60.  (Coleção “Os Pensadores”).
[26] Tomás de Aquino.  Súmula contra os gentios.  Tradução de Luiz João Baraúna.  In: Ibid., Cap. 2º,             p. 60.  (Coleção “Os Pensadores”).
[27] Tomás de Aquino.  Súmula contra os gentios.  Tradução de Luiz João Baraúna.  In: Ibid., Cap. 2º,             p. 60.  (Coleção “Os Pensadores”).
[28] Archer Jr., Gleason L.  Merece confiança o Antigo Testamento?  Tradução de Gordon Chown.  4. ed.  São Paulo – SP: Vida Nova, 2004.  p. 14.
[29] A visão naturalística que Archer, Jr. se refere, trata-se, segundo Russel C. Champlin, do “... pensamento que o mundo e todas as coisas nele existentes devem ser explicados com base na ciência natural, sem apelos à teologia e a conceitos do sobrenatural. E quando as coisas transcendem ao presente conhecimento que possuímos, então somos convocados a ter fé no inexorável avanço da ciência, a qual, presumivelmente, poderá mostrar, afinal, que todas as coisas são naturais.” (Liberalismo.  In: Champlin, Russel Norman.  Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia.  6. ed. São Paulo – SP: Hagnos, Vol. 4 (M - O), 2002.  p. 457). Ampliando nossa visão, N. Abbagnano ensina que o naturalismo é a “Doutrina segundo a qual nada existe fora da natureza e Deus é apenas o princípio de movimento das coisas naturais. Nesse sentido, que é o mais difundido na terminologia contemporânea, fala-se do ‘Naturalismo do Renascimento’, do ‘Naturalismo antigo’, do ‘Naturalismo materialista’, etc.” (Naturalismo.  In: Nicolas AbbagnanoDicionário de Filosofia, p. 698). A abordagem naturalista é anti-sobrenatural e, como tal, não reconhece o sobrenaturalismo de Deus. Por isso deve ser rejeitada no estudo da Bíblia Sagrada, pois limita o ensino Bíblico a meras conjecturas humanas. (Cf. também: McDowell, Josh.  Evidência que exige um veredicto: evidência histórica da fé cristã.  Tradução de João M. Bentes.  2. ed.  São Paulo – SP: Candeia, 1997.  v. 2, p. 23 – 42).
[30] Gleason L. Archer Jr., Merece confiança o Antigo Testamento?, p. 14.
[31] Ibid., p. 14.
[32] Ibid., p. 14.
[33] Hodge, Charles.  Teologia sistemática.  Tradução de Valter Martins.  São Paulo – SP: Hagnos, 2003.  p. 11.
[34] Ibid., p. 12.
[35] Calvino, João.  A instituição da religião cristã.  Tradução de Ilunga Kabedgele.  São Paulo – SP: UNESP, 2008.  Tomo I, Livro I, Cap. I, 1, p. 37.  (Edição Integral de 1559).
[36] Ibid., Tomo I, Livro I, Cap. I, 2, p. 38.
Nesse mesmo capítulo, mais a frente, João Calvino (1509 – 1564) diz: “... o homem nunca é suficientemente atingido e afetado pelo conhecimento da pequenez de sua humanidade, a não ser depois que se comparara com a majestade de Deus.” (Ibid., Tomo I, Livro I, Cap. I, 3, p. 39).
[37] Ibid., Tomo I, Livro I, Cap. II, 1, p. 40.
[38] Em diversos lugares João Calvino (1509 – 1564) nos afirma que Deus é a fonte de todos os bens e que vemos buscar somente nele esses bens. Por exemplo, ele diz que “Ainda que a nossa mente não possa apreender a Deus sem lhe atribuir algum culto, não bastará, entretanto, defender apenas que Ele seja o único a ser cultuado e adorado, a menos que também sejamos persuadidos de que Ele seja a fonte de todos os bens, para que não os busquemos senão n’Ele.(João Calvino.  A instituição da religião cristã.  Tomo I, Livro I, Cap. II, 1, p. 40 – 41). Depois afirma: “Com efeito, até que os homens não sintam que devem todas as coisas a Deus, que são favorecidos pelo seu cuidado paterno, que ele é o autor de todos os bens, de modo que nada deva ser buscado fora d’Ele, jamais se sujeitarão a ele por uma observância voluntária, pelo contrário; a menos que erijam n’Ele uma sólida felicidade para si, jamais se aproximarão completamente d’Ele de modo verdadeiro e com sinceridade de alma.(Ibid., Tomo I, Livro I, Cap. II, 1, p. 41).
[39] Ibid., Tomo I, Livro I, Cap. II, 1, p. 41.
[40] Ibid., Tomo II, Livro III, XXI, 1, p. 376.  (Grifo Nosso).
[41] Ibid., Tomo II, Livro III, XXI, 1, p. 376.
[42] Ibid., Tomo II, Livro III, XXI, 1, p. 376 – 377.
[43] Ibid., Tomo II, Livro III, XXI, 1, p. 377.  (Grifo Nosso).
[44] Ibid., Tomo II, Livro III, XXI, 2, p. 378.  (Grifo Nosso).
[45] Ibid., Tomo II, Livro III, XXI, 3, p. 378.
Antes, nesse mesmo capítulo, o reformador havia dito: Se reina em nós o pensamento de que a Palavra do Senhor é o único caminho que nos conduz a investigar tudo quanto é justo dele sustentar-se, é a única luz que à frente nos resplandece para bem perceber tudo quanto a respeito dele convém considerar-se, de toda temeridade facilmente nos conterá e coibirá. Porque sabemos que no momento em que transpusermos os limites assinalados pela Escritura, seremos perdidos fora do caminho e entre trevas espessas, no qual teremos necessariamente que vagar, muitas vezes, sem rumo, resvalar e a tropeçar. (João CalvinoA instituição da religião cristã.  Tomo II, Livro III, XXI, 2, p. 377).
[46] Calvino, João.  As pastorais: I Timóteo, 2 Timóteo, Tito e Filemon.  Tradução de Valter G. Martins.  São Paulo – SP: Paracletos, 1998.  II Tm. 3:16, p. 262.
[47] Ibid, II Tm. 3:16, p. 262.
[48] Ibid., II Tm. 3:16, p. 262.
[49] Ibid., II Tm. 3:16, p. 262 – 263.
A Confissão de Fé de Westminster (1648 – 1649) preserva a doutrina bíblico-calvinista e também afirma que é o Espírito Santo e não a Igreja que é a palavra final em nosso coração para testemunhar que a Escritura vem de Deus. Ela rediz: “Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e induzidos a um elevado e reverente apreço pela Sagrada Escritura, e pela sublimidade da Matéria, a eficácia da doutrina, a majestade do estilo, a harmonia de todas as partes, o escopo de seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena descoberta que faz do único meio de salvação para o homem, as muitas outras excelências incomparáveis e a plena perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; não obstante, nossa plena persuasão e certeza da infalível verdade e divina autoridade provém da obra interna do Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavras, testifica em nossos corações.” (Hodge, Alexander A.  Confissão de Fé Westmisnter: comentada por A. A. Hodge.  Tradução de Valter G. Martins.  São Paulo – SP: Os Puritanos, 1999.  I, V, p. 62).
[50] João Calvino.  As pastorais: I Timóteo, 2 Timóteo, Tito e Filemon.  II Tm. 3:16, p. 263.
[51] João CalvinoA instituição da religião cristã.  Tomo II, Livro III, XXI, 3, p. 378.  (Grifo               Nosso).
[52] Ibid., Tomo II, Livro III, XXI, 3, p. 378.
[53] Ibid., Tomo II, Livro III, XXI, 4, p. 379 – 380.  (Grifo  Nosso).
[54] João Calvino.  As pastorais: I Timóteo, 2 Timóteo, Tito e Filemon.  II Tm. 3:16, p. 263.
[55] Ibid., II Tm. 3:16, p. 263.
[56] Ibid., II Tm. 3:16, p. 263.  (Grifo Nosso).
[57] Cf.: Costa, Hermisten M. P. da.  A pessoa e obra do Espírito Santo.  Maringá - PR, fevereiro de 2006.  f. 45.  Anotações de aula da disciplina Teologia Sistemática (Pneumatologia), ministrada no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, São Paulo – SP.  [Trabalho não Publicado].
[58] Costa, Hermisten Maia. P. da. Teologia sistemática: prolegômena.  São Paulo – SP: Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel as Conceição, fevereiro de 2005.  f. 42.  Anotações parciais de aula da disciplina Teologia Sistemática I (Prolegômena / Teontologia e Antropologia), ministrada no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, São Paulo Capital.  [Trabalho não publicado]. [Cf. também: Hermisten M. P. da Costa, A pessoa e obra do Espírito Santo, f. 46).

Um comentário:

Helder Müzel Ramiro disse...

Deus continue a te abençoar meu Hermano!!! Abraçoooo