“O
estudo da verdade religiosa deveria ser empreendido e continuado com base no
senso de dever, tendo como escopo o aprimoramento do coração.” – Dagg, John L. Manual
de Teologia. 2. ed. São José dos Campos – SP: Fiel, 1998. p. 1.
“O propósito
divino não é satisfazer a nossa curiosidade, e, sim, ministrar-nos instrução
proveitosa.” –
Calvino, João. As
pastorais. Tradução de Valter G.
Martins. São Paulo – SP: Paraklestos,
1998. Comentário de I Tm. 2:14, p. 233.
“O ser essencial
de Deus devemos adorar, não pesquisar com curiosidade.” – Calvino, João. Apud
Costa, Hermisten M. P. da. Anotações
sobre a hermenêutica de Calvino: compreensão a serviço da piedade e do
ensino. São Paulo – SP, Seminário
Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, Maio de 2006. f. 79.
[Trabalho não publicado].
Introdução
Charles
Haddon Spurgeon (1834 - 1892) certa vez disse que “Nenhum tema contemplativo tende a humilhar mais a mente do que os
pensamentos sobre Deus.” [1]
Alias, segundo ele, este assunto, ao mesmo tempo em que “... humilha a mente, ele
também a expande.” [2] Estas
palavras certamente deixam felizes e realizados todos os que a ouvem, exceto,
talvez, por uma palavra simples que ele usa: “contemplativo”. É isso mesmo: ele
diz que os pensamentos sobre Deus são um “tema contemplativo”. É sobre este
assunto que eu quero me ater aqui por algumas linhas.
I – O Papel da Contemplação na Vida Cristã
Um fato muito
fácil de ser notado é que o homem moderno se empolgou tanto com a tecnologia
que ele acabou criando uma “... certa
mentalidade mecanicista, pragmática, [3] ativista, que colocou de quarentena o
contemplativo.” [4] A consequência disso é que ele “De tal modo se deixou empolgar pelo fazer,
que perdeu a perspectiva do ser”. [5] Já no
passado, Jesus Cristo, enquanto esteve na terra, condenou esta filosofia de
vida, e um dos textos que vemos isso é o da parábola registrada na história de Lc. 12:13 – 21. Nesse texto lemos que
um homem pede para que Cristo ordene a seu irmão que reparta a herança com ele.
A lição de Jesus àquele homem e o centro do ensino da parábola está no v. 15: “Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer
avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele
possui.” Este verso consiste na meta
que todo cristão verdadeiro deve realizar em sua vida. Contra este ensino, a
mentalidade do homem rico da parábola está registrada no v. 19: “descansa, come, bebe e regala-te.” (v. 19). Percebemos com esta história que o lema
daqueles que se apegam a visão mecanicista é que o presente deve ser
aproveitado e que nossa alma deve se regalar com seus bens e descansar neles.
Eles colocam de lado o que há de mais essencial na vida: o lado contemplativo.
O que é ser contemplativo? Eduardo P. de Mendonça
diz que “A ideia comum de vida contemplativa
é a de um afastamento da realidade, a de uma vida de abstração, ou, para usar
uma palavra ao gosto da época, a de uma alienação. E, no entanto, a
contemplação não se opõe radicalmente à ação: ela se prova mesmo na ação”. [6] Desta forma, ser contemplativo é meditar sobre
assuntos sérios, assimilar esses conteúdos e aplicar na vida ética do
indivíduo. E o que é meditar? De acordo com o Teólogo inglês James I. Packer, “Esta é uma boa pergunta, pois a meditação é
uma arte esquecida hoje em dia, e o povo cristão sofre dolorosamente por
ignorar sua prática.” [7] Segundo ele, “Meditação
é o ato de trazer à mente as várias coisas que se conhece sobre as atividades,
os modos, os propósitos e as promessas de Deus; pensar em tudo isso, refletir
sobre essas coisas e aplicá-las à própria vida.” [8] Percebemos com esta definição que a meditação não é
algo meramente teorético, mas, deve ser também algo prático. Meditar é refletir
sobre os assuntos a respeito de Deus.
O que é refletir? “A
palavra reflexão vem do verbo latino reflectere, que significa voltar atrás.”
[9] Refletir, portanto, é rever as suas
próprias considerações e ações, e determinar se seu método ou ética foram
alcançados. Nas palavras do filósofo italiano Nicola
Abbagnano (1901 – 1990), a reflexão consiste no “...
ato ou o processo por meio do qual o homem considera suas próprias ações.” [10] Por ser um
meio de revisar as suas ações, é certo que a reflexão crítica está dentro de
uma das principais atividades do homem que é moralmente consciente. O
Teólogo norte-americano John Dagg (1794 - 1884) diz que “Nossas mentes foram constituídas de tal maneira que somos capazes de
perceber uma certa qualidade moral nas ações, podendo nós aprova-las ou
desaprová-las.” [11] Desta
forma, a consciência de se fazer o que é certo traz um dos nossos mais elevados
prazeres, enquanto que a angustia do remorso por causa de alguma maldade que se
fez é tão intolerável quanto outro sofrimento qualquer que o coração humano
possa sentir. [12]
Vemos,
então, que a contemplação é intimamente ligada à ideia de “meditação” e de
“reflexão”. “A vida contemplativa é esta
que se dirige à tomada de possa de si mesmo, à clareza de consciência, ao
domínio da vontade, ao discernimento intelectual.” [13] Ela
não pode se fechar a apenas se envolver imaginativamente com a vontade, “... pois o excessivo exercício da função
fabuladora, o pensamento que se arrasta nos voos da imaginação despoliciada a
sacrifica e entibia”. [14]
Na Teologia, a meditação não pode ser meramente imaginativa, pois, “Quando a doutrina religiosa é considerada
meramente como objeto de especulação, a mente não se contenta com a verdade
simples, conforme ela pode ser encontrada em Jesus, mas corre atrás de questões
sem proveito e acaba se enredando em dificuldades das quais é incapaz de
desvencilhar-se.” [15] A
consequência disso é o ceticismo [16]
de muitos. [17]
II – A Curiosidade Como Motivação Para o Estudo da Escritura
Uma das lutas dos expositores da Bíblia é fazer com
que a Igreja assimile a ideia de que o estudo das Escrituras não combina com a
curiosidade humana no sentido de ser esta curiosidade o único motivador para este
estudo. John Dagg (1794 - 1884) diz que “Estudar teologia com o
propósito de satisfazer à curiosidade ou de preparar-se para uma profissão,
seria um absurdo, uma profanação daquilo que precisa ser considerado como
extremamente santo.” [18] E
ele diz mais: “Aprender as realidades
referentes a Deus meramente (...) a fim
de satisfazer o mero amor ao conhecimento é tratar o Altíssimo com desdém.” [19] De
Deus não se zomba, diz o apóstolo Paulo (cf.: Gl. 6:7), logo, tratar a sua verdade com desdém não é sábio, pois, “A verdade que poderia salvar e santificar
as suas almas é por eles intencionalmente rejeitada, por não satisfazer à sua
imensa curiosidade e, tampouco, solucionar todas as suas perplexidades.” [20] Por
isso muitos a abandonam: porque se sentem incapazes de a explicar. [21]
Mas, “Se dermos início à nossa inquirição
pela verdade religiosa movidos pelo senso do dever [22] e com o propósito de fazer o
melhor uso possível dessa verdade, podemos estar certos do êxito.” [23] Observe
as palavras de Jesus em Jo. 7:17 – “Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a
respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo.” Portanto, “...
o senso do dever, sob o qual haveremos de agir, não nos impulsionará para além
desse limite”: [24] a Escritura Sagrada.
Tomas de Aquino (1225 – 1274), ao falar da crise de
autoridade que já dominava a sua época, disse que uma das razões pelas quais é
difícil refutar todos os erros “... é que
alguns dos autores desses erros, como os maometanos e os pagãos, não concordam
conosco no reconhecimento da autoridade das Sagradas Escrituras, mediante as
quais poderíamos convencê-los”. [25] Segundo ele, isso não acontece nem com os judeus e
nem com os cristãos heréticos, pois, se com aqueles, nós “... podemos discutir à base do Antigo Testamento”, [26] com estes, nós “...
podemos discutir com base nos escritos do Novo Testamento.” [27] Com base nessa crise de autoridade, tão atuante na
modernidade quanto foi na época de Tomás de Aquino (1225 – 1274), creio ser a
solução desafiadora de Gleason L. Archer, Jr. satisfatória. Ele afirma que para
começarmos um estudo do Antigo Testamento, nos é apropriado perguntar: “que
tipo de livro é?”. Há duas possibilidades: ou é um produto humano ou divino.
Archer, Jr. diz que “Se
é meramente um produto do gênio humano, como muitos outros documentos nos quais
têm-se fundamentado várias religiões, então os dados que apresenta precisam ser
tratados de uma maneira específica.” [28] Isso significa que a abordagem que
parte do pressuposto que os 39 livros do Antigo Testamento (e consequentemente,
toda a Escritura Sagrada), são produto do gênio humano, deve ter o seu próprio
método de interpretação destes livros. E qual seria este método? É aquele que
ensina que “... estas escritas sagradas
precisam ser aquilatadas em termos puramente literários, e explicações
naturalísticas [29] precisam ser achadas para cada aspecto que parece
ser sobrenatural (como por exemplo o cumprimento de profecias).” [30] Mas, se “... os
trinta e nove livros do Antigo Testamento são inspirados por Deus, empregando
instrumentos humanos para registrar a verdade que Ele revelou ao homem, então
os dados precisam ser tratados de maneira bem diferente.” [31]
Que
maneira seria esta? Archer, Jr. responde: “Isto
quer dizer que tudo aquilo que possa parecer inconsistente com aquele padrão de
exatidão e de veracidade que a inspiração divina pressupõe, precisa ser
investigado com grande cuidado para se chegar a uma reconciliação satisfatória
daquilo que parece ser discrepância.” [32] O que este método de interpretação
pressupõe é que a Escritura Sagrada é superior ao homem porque ela tem a sua
origem em Deus.
O teólogo
presbiteriano Charles Hodge (1797 – 1878) afirma que os homens têm verdades que
são adquiridas por sua intuição, por causa de serem eles criaturas morais e
intelectuais. Mas, acima disso, Hodge (1797 – 1878) exalta o poder controlador
que o Espírito Santo de Deus exerce sobre estas crenças. Para ele
Não
podemos presumir que esse ou aquele princípio seja intuitivamente verdadeiro,
ou que essa ou aquela conclusão possa ser demonstrada correta, e transformá-los
num padrão ao qual a Bíblia se conforme. Qual seja a verdadeira auto-evidência,
ela tem que ser provada como tal e ser sempre reconhecida na Bíblia como
verdadeira. [33]
Isso só será
possível, no entanto, com o auxílio do Espírito Santo de Deus que é responsável
não para nos dar a revelação de novas verdades, mas sim, de iluminar nossas
mentes para que apreendamos a verdade, a excelência e a glória das coisas já
reveladas.
A
Bíblia nos fornece não apenas os fatos concernentes a Deus, a Cristo e a nós
mesmos em nossa relação com nosso Criador e Redentor, mas também registra os
efeitos íntimos dessas verdades na mente dos crentes. De modo que não podemos
apelar para nossos próprios sentimentos ou nossas experiências interiores como
fundamento ou guia, a menos que possamos mostrar que eles concordam com a
experiência de homens santos conforme registrada nas Escrituras. [34]
O
reformador João Calvino (1509 – 1564) reverencia o estudo de Deus com a mesma
ênfase de John Dagg (1794 - 1884). Para ele, conhecer sobre
Deus não deve ser sinônimo de satisfazer a nossa curiosidade pecaminosa. Primeiramente,
ele ensina que “Quase toda a suma de
nossa sabedoria, que deve ser considerada a sabedoria verdadeira e sólida,
compõe-se de duas partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós
mesmos. Como são unidas entre si por muitos laços, não é fácil discernir qual
precede e gera a outra.” [35] Para
que o homem chegue a um conhecimento puro de si mesmo, ele deve contemplar “... a face de Deus, e, dessa visão, desça
para a inspeção de si mesmo.” [36] Mas,
o que é conhecer a Deus? É “... não só
conceber que algo seja Deus, mas também compreender o que, no conhecimento
acerca d’Ele, nos convém saber, o que é útil para sua glória e, por fim, o que
é necessário.”
[37] Percebemos
que para o reformador o conhecimento de Deus deve nos levar a conhecer o que é
útil para a sua glória e também o que é necessário. É por isso que para ele
conhecer a Deus não pode apenas servir para o propósito de satisfazer a nossa
curiosidade pecaminosa. Antes, “... conhecê-lo
deve valer primeiro para nos instituir ao temor e à reverência, depois para
que, por esse conhecimento, aprendamos a pedir a Ele todo o bem [38] e
a Ele atribuir o que recebemos.” [39]
No capítulo que fala sobre “A Eleição Eterna, Com a
Qual Deus Predestinou a uns Para a Salvação e a Outros Para a Perdição”, João
Calvino (1509 – 1564) enfatiza que esse tema, e, consequentemente todas as
doutrinas da Escritura, não devem ser estudados apenas para satisfazer a
curiosidade humana. Ele diz que “Como o
tema da predestinação é de certa forma obscuro em si, a curiosidade dos
homens o torna muito perigoso”. [40]
A dificuldade é que “... o intelecto
humano não se pode refrear, nem, por mais limites e termos que se assinalem,
deter-se para não se extraviar por caminhos proibidos e elevar-se com afã, se
lhe fosse possível, de não deixar segredo de Deus sem resolver e esquadrinhar.”
[41] O
problema é que “... são muitos os que
caem nesse atrevimento e desatino”. [42]
Para inibi-los deste erro, Calvino (1509 – 1564) lhes ensina a como conduzir
este tema: “... se lembrem de que, quando
querem saber os segredos da predestinação, penetram no santuário da sabedoria
divina, no qual todo aquele que entra com ousadia não encontra como
satisfazer sua curiosidade e mete-se num labirinto do qual não pode sair.” [43] Depois,
mais uma vez adverte: “E se a
curiosidade de nosso intelecto nos incita, tenhamos sempre em mente, para
retê-la, aquela admirável sentença
(...) (Pv 25,27). Pois temos
motivo para detestar esse atrevimento, já que não pode fazer outra coisa senão
nos precipitar na ruína.” [44]
O
limite para o conhecimento a respeito de Deus é sempre a sua Palavra Santa: “... a Escritura é a escola do Espírito
Santo, na qual nem se deixou de pôr coisa alguma necessária e útil de conhecer,
tampouco se ensina mais do que é preciso saber.” [45] Ao
comentar o texto de II Tm. 3:16 em
que Paulo diz: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça”, Calvino (1509 –
1564) diz que o apóstolo “Primeiro,
recomenda a Escritura por causa de sua autoridade; e, a seguir, por causa do
benefício que dela advém.” [46]
Deus nos fala na Escritura por intermédio de seu Espírito e este fato é
... o princípio
que distingue a nossa religião de todas as demais, ou seja: sabemos que Deus nos
falou e estamos plenamente convictos de que os profetas não falaram de si próprios,
mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual
foram do céu comissionados a declarar. [47]
Depois,
Calvino (1509 – 1564) diz que todos os que querem se beneficiar das Escrituras devem
ter este princípio em mente: “que a lei e
os profetas não são ensinos passados adiante pelo bel prazer dos homens ou
produzidos pelas mentes humanas como sua fonte, senão que foram ditados pelo
Espírito Santo.” [48] E
quem nos garante que a Escritura é a escola do Espírito porque foi inspirada
por Deus? Segundo Calvino (1509 – 1564) é o próprio Espírito. Ele diz: “O mesmo Espírito que deu certeza a Moisés e
as profetas de sua vocação, também agora testifica aos nossos corações de que
ele tem feito uso deles como ministros através de quem somos instituídos.” [49] E
por que há os que duvidam da autoridade da Escritura? Calvino (1509 – 1564)
responde que é exatamente por lhes faltar a iluminação do próprio Espírito: “Pois ainda que a majestade divina esteja
exibida nela, somente aqueles que têm sido iluminados pelo Espírito Santo
possuem olhos para ver o que deveria ser obvio a todos, mas que, na verdade, é
visível somente aos eleitos.” [50]
Com
esse pressuposto em mente, o cristão deve abrir “... seus ouvidos e seu intelecto a todo raciocínio e às palavras que
Deus quis lhe dizer, contanto que o cristão use tal temperança e sobriedade,
que, tão logo veja que o Senhor fechou sua boca sagrada, pare ele também e
não leve adiante a sua curiosidade, fazendo novas perguntas.” [51] Portanto,
o limite de nossa sobriedade é que “...
ao aprender, sigamos a Deus, deixando-o falar primeiro; e, se o Senhor deixar
de falar, tampouco nós queiramos saber mais ou passar adiante.” [52] Por
fim, Calvino (1509 – 1564) diz que devemos evitar dois erros: a excessiva
curiosidade ou o menosprezo à Palavra de Deus:
...
desejo apenas conseguir de todos os homens em geral que não esquadrinhemos nem
queiramos saber o que o Senhor escondeu e não deseja que se saiba; e que não
menosprezemos o que Ele nos manifestou e declarou com sua Palavra; para que,
por um lado, não sejamos condenados por nossa excessiva curiosidade, e,
por outro, por nossa ingratidão. [53]
Na
segunda parte de seu comentário do texto de II Tm. 3:16, João Calvino (1509 – 1564) diz que quando Paulo escreve
que “Toda a Escritura é (...) útil”, ele tem em mente que “... a Escritura contém a perfeita norma de uma vida saudável e feliz.”
[54] Sendo assim, há um mau uso pecaminoso toda vez que
a utilidade da Escritura não é buscada nela própria. “E assim, ele indiretamente reprova as pessoas levianas que estavam
alimentando outras pessoas com vãs especulações com ar. Por esta mesma razão
podemos hoje condenar a todos aqueles que, sem nenhuma preocupação pela
edificação, comovem com muita arte, sim, porém com questões sem qualquer
proveito.” [55] Por fim, Calvino
(1509 – 1564) nos diz porque Deus nos concedeu as Escrituras: “Ao dar-nos as Escrituras, o Senhor não
pretendia nem satisfazer nossa curiosidade, nem alimentar nossa ânsia por
ostentação, nem tampouco deparar-nos uma chance para invenções místicas e
palavreado tolo; sua intenção, ao contrário, era fazer-nos o bem.” [56] Este
bem é nos guiar ao que é proveitoso, ou seja, ao ensino da sua própria Palavra.
Considerações Finais
Com
tudo o que foi dito, percebemos que é essencial evitar o estudo das Escrituras
Sagradas apenas para satisfazer uma mera curiosidade pessoal. Esta curiosidade
é pecaminosa porque “... em geral ocasiona
especulações esdrúxulas e facções.” [57] Este
tipo de curiosidade não deve ser a nossa motivação para o estudo, antes, devemos
estudar as Escrituras porque “A Bíblia
como Palavra inspirada e inerrante de Deus, dá ao homem a resposta adequada à
suas necessidades espirituais de que tanto carece, apontando para Jesus (Jo
5.39) e para o poder de Deus.” [58]
Itatiaia,
10 de agosto de 2013.
Reverendo
Heber Ramos Bertucci
________________________________
Notas:
[1] Charles H. Spurgeon apud Packer, James I. O conhecimento de Deus. Tradução de Cleide Wolf. 7. ed.
São Paulo – SP: Mundo Cristão, 2001.
p. 9.
Depois
Charles Haddon Spurgeon (1834 - 1892) ainda diz que “Nada alargará mais o intelecto, nada expandirá mais a alma do homem do
que a investigação dedicada, ansiosa e contínua do grande tema da Divindade.” (Charles
H. Spurgeon apud Ibid., p. 10).
[3]
De acordo com Russel Norman Champlin “O termo pragmatismo deriva-se do termo grego prágma, ‘coisa’, ‘fato’, matéria’. Sua forma verbal é prassein ‘realizar’.” (Pragmatismo. In:
Champlin, Russel Norman. Enciclopédia
de Bíblia teologia e filosofia. 6.
ed. São Paulo – SP: Hagnos, v. 5 (P - R), 2002. p. 352). Battista Mondin fala que “... o princípio sobre o qual se funda o
pragmatismo é justamente o que faz do conhecimento mero instrumento de ação e
que, consequentemente, resolve o critério da verdade das diversas teorias no
seu sucesso prático.” (Mondin,
Battista. Curso de filosofia: os filósofos do
Ocidente. Tradução de Benôni lemos. 9 ed.
São Paulo – SP: Paulus, 2005. v.
3, p. 151). João Paulo II (1920 – 2005), apontando alguns erros da era moderna,
ensina que “Portador de perigos não
menores é o pragmatismo, atitude
mental própria de quem, ao fazer as suas opções, exclui o recurso a reflexões abstratas ou a avaliações fundadas
sobre princípios éticos. As consequências práticas que derivam desta linha de
pensamento são notáveis.” (João Paulo
II. Fides et Ratio. 9. ed. São Paulo – SP: Paulinas, 2006. Vol. 160, VII, 1, 89, p. 119. [Dado em Roma no dia 14 de Setembro de
1998]).
[4] Mendonça,
Eduardo P. de. O mundo precisa de filosofia.
8. ed. Rio de Janeiro – RJ: Agir,
1987. p. 17.
Observemos
o uso da palavra hebraica traduzida por meditação no Sl. 1:2 – “Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei
medita de dia e de noite.” O termo que o salmista usa aqui é hg'h' que tem o sentido básico de “som baixo”, como, por exemplo, o arrulhar de
uma pomba (cf.: Is. 38:14 – “gemia” = hG<ßh.a,), ou o rugido de um leão
após capturar a sua presa (cf.: Is. 31:4
– “rugem”
= •hG<h.y<). Um uso positivo desse termo é o meditar na Palavra de
Deus, o que deve acontecer de dia e de noite (cf.: Js. 1:8 – “medita” = t'ygIÜh'w>; Sl. 1:2
– “medita” = hG<©h.y<). “Talvez as Escrituras fossem lidas a meia voz durante o processo de
meditação. O salmista também fala sobre meditar em Deus (Sl 63.6[8]) e em suas
obras (77.12[13]; 143.5).” (Herbert
Wolf. hg'h'.
Harris, R. Laird; Archer, Jr., Gleason
L.; Waltke, Bruce K. Dicionário Internacional de
Teologia do Antigo Testamento. Tradução de Márcio L. Redondo, Luiz A. T.
Sayão e Carlos O. C. Pinto. São Paulo –
SP: Vida Nova, 2005. p. 337).
[9] Piletti, Claudino; Piletti, Nelson. Filosofia
e história da educação. 10. ed. São Paulo – SP: Ática, 1993. p. 13.
[10] Reflexão. In:
Abbagnano, Nicola. Dicionário
de filosofia. Tradução de Alfredo
Bossi e Ivone C. Benedetti. 5. ed. São Paulo – SP: Martins Fontes, 2007. p. 986.
[16] Norman
Geisler e Paul D. Feinberg afirmam que “Mais
provavelmente, o ceticismo como metodologia filosófica foi desenvolvido pelos
líderes da Academia de Platão no século III a.C. Os acadêmicos, conforme eram
chamados, rejeitavam as doutrinas metafísicas e místicas de Platão. Pelo
contrário, concentravam-se naquilo que consideravam supremo na observação de
Sócrates: ‘Tudo quanto sei é que nada sei’. Além disso, procuravam desenvolver
o método socrático e sua tática de fazer perguntas.” (Geisler, Norman L.; Feinberg, Paul D. Introdução
à filosofia: uma perspectiva cristã.
Tradução de Gordon Chown. 2.
ed. São Paulo – SP: Vida Nova,
2000. p. 68).
[22] Dagg (1794 - 1884) diz no início de sua obra
que “O estudo da verdade religiosa
deveria ser empreendido e continuado com base no senso do dever, tendo
como escopo o aprimoramento do coração. Uma
vez aprendida, essa verdade [religiosa] não deveria ser guardada em uma estante, como se fosse um objeto de
pesquisa; mas deveria ser implantada profundamente no coração, onde o seu poder
santificador pode ser sentido.” (Ibid., p. 1. [Grifo Nosso]).
[25] Aquino, Tomás
de. Súmula contra os gentios. Tradução de Luiz João Baraúna. In:
Aquino, Tomás de; Alighieri, Dante. Seleção
de textos. Tradução de Luiz J.
Baraúna; Alexandre Correa; et al. São Paulo – SP: Nova Cultural, 1988. Cap. 2º, p. 60. (Coleção “Os Pensadores”).
[26] Tomás
de Aquino. Súmula contra os gentios. Tradução de Luiz João Baraúna. In:
Ibid., Cap. 2º, p. 60. (Coleção “Os Pensadores”).
[27] Tomás
de Aquino. Súmula contra os gentios. Tradução de Luiz João Baraúna. In:
Ibid., Cap. 2º, p. 60. (Coleção “Os Pensadores”).
[28] Archer Jr., Gleason L. Merece
confiança o Antigo Testamento?
Tradução de Gordon Chown. 4.
ed. São Paulo – SP: Vida Nova,
2004. p. 14.
[29] A visão
naturalística que Archer, Jr. se refere, trata-se, segundo Russel C. Champlin,
do “... pensamento que o mundo e todas as
coisas nele existentes devem ser explicados com base na ciência natural, sem
apelos à teologia e a conceitos do sobrenatural. E quando as coisas transcendem
ao presente conhecimento que possuímos, então somos convocados a ter fé no
inexorável avanço da ciência, a qual, presumivelmente, poderá mostrar, afinal,
que todas as coisas são naturais.” (Liberalismo. In:
Champlin, Russel Norman. Enciclopédia
de Bíblia Teologia e Filosofia. 6.
ed. São Paulo – SP: Hagnos, Vol. 4 (M - O), 2002. p. 457).
Ampliando nossa visão, N. Abbagnano ensina que o naturalismo é a “Doutrina segundo a qual nada existe fora da
natureza e Deus é apenas o princípio de movimento das coisas naturais. Nesse
sentido, que é o mais difundido na terminologia contemporânea, fala-se do
‘Naturalismo do Renascimento’, do ‘Naturalismo antigo’, do ‘Naturalismo
materialista’, etc.” (Naturalismo. In: Nicolas Abbagnano. Dicionário de Filosofia, p. 698). A
abordagem naturalista é anti-sobrenatural e, como tal, não reconhece o
sobrenaturalismo de Deus. Por isso deve ser rejeitada no estudo da
Bíblia Sagrada, pois limita o ensino Bíblico a meras conjecturas humanas. (Cf.
também: McDowell, Josh. Evidência
que exige um veredicto: evidência histórica da fé cristã. Tradução de João M. Bentes. 2. ed.
São Paulo – SP: Candeia, 1997. v.
2, p. 23 – 42).
[30] Gleason L. Archer Jr., Merece confiança o Antigo Testamento?, p. 14.
[31] Ibid., p. 14.
[32] Ibid., p. 14.
[33] Hodge, Charles. Teologia sistemática. Tradução de Valter Martins. São Paulo – SP: Hagnos, 2003. p. 11.
[35] Calvino, João. A
instituição da religião cristã. Tradução
de Ilunga Kabedgele. São Paulo – SP: UNESP,
2008. Tomo I, Livro I, Cap. I, 1, p.
37. (Edição Integral de 1559).
Nesse
mesmo capítulo, mais a frente, João Calvino (1509 – 1564) diz: “... o homem nunca é suficientemente atingido e afetado pelo conhecimento
da pequenez de sua humanidade, a não ser depois que se comparara com a
majestade de Deus.” (Ibid., Tomo I, Livro I, Cap. I, 3, p.
39).
[38]
Em diversos
lugares João Calvino (1509 – 1564) nos afirma que Deus é a fonte de todos os
bens e que vemos buscar somente nele esses bens. Por exemplo, ele diz que “Ainda que a nossa mente não possa
apreender a Deus sem lhe atribuir algum culto, não bastará, entretanto,
defender apenas que Ele seja o único a ser cultuado e adorado, a menos que
também sejamos persuadidos de que Ele seja a fonte de todos os bens, para que
não os busquemos senão n’Ele.” (João Calvino. A instituição da religião cristã. Tomo I, Livro I, Cap. II, 1, p. 40 –
41). Depois afirma: “Com efeito, até que os homens
não sintam que devem todas as coisas a Deus, que são favorecidos pelo seu
cuidado paterno, que ele é o autor de todos os bens, de modo que nada deva ser
buscado fora d’Ele, jamais se sujeitarão a ele por uma observância voluntária,
pelo contrário; a menos que erijam n’Ele uma sólida felicidade para si, jamais
se aproximarão completamente d’Ele de modo verdadeiro e com sinceridade de
alma.” (Ibid., Tomo
I, Livro I, Cap. II, 1, p. 41).
Antes, nesse mesmo capítulo, o
reformador havia dito: “Se
reina em nós o pensamento de que a Palavra do Senhor é o único caminho que nos
conduz a investigar tudo quanto é justo dele sustentar-se, é a única luz que à
frente nos resplandece para bem perceber tudo quanto a respeito dele convém
considerar-se, de toda temeridade facilmente nos conterá e coibirá. Porque
sabemos que no momento em que transpusermos os limites assinalados pela
Escritura, seremos perdidos fora do caminho e entre trevas espessas, no qual
teremos necessariamente que vagar, muitas vezes, sem rumo, resvalar e a
tropeçar.” (João
Calvino. A
instituição da religião cristã. Tomo II,
Livro III, XXI, 2, p. 377).
[46] Calvino, João. As
pastorais: I Timóteo, 2 Timóteo, Tito e Filemon. Tradução de Valter G. Martins. São Paulo – SP: Paracletos, 1998. II Tm. 3:16, p. 262.
A Confissão de Fé de
Westminster (1648 – 1649) preserva a doutrina bíblico-calvinista e também
afirma que é o Espírito Santo e não a Igreja que é a palavra final em nosso
coração para testemunhar que a Escritura vem de Deus. Ela rediz: “Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e
induzidos a um elevado e reverente apreço pela Sagrada Escritura, e pela sublimidade
da Matéria, a eficácia da doutrina, a majestade do estilo, a harmonia de todas
as partes, o escopo de seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena descoberta
que faz do único meio de salvação para o homem, as muitas outras excelências
incomparáveis e a plena perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se
evidencia ser ela a Palavra de Deus; não obstante, nossa plena persuasão e
certeza da infalível verdade e divina autoridade provém da obra interna do
Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavras, testifica em nossos
corações.”
(Hodge, Alexander A. Confissão
de Fé Westmisnter: comentada por A. A. Hodge. Tradução de Valter G. Martins. São Paulo – SP: Os Puritanos, 1999. I, V, p. 62).
[51] João Calvino.
A instituição da religião cristã.
Tomo II, Livro III, XXI, 3, p. 378. (Grifo Nosso).
[57] Cf.: Costa, Hermisten M. P. da.
A pessoa e obra do Espírito Santo. Maringá - PR, fevereiro de 2006. f. 45. Anotações de aula da disciplina Teologia
Sistemática (Pneumatologia), ministrada no Seminário Presbiteriano Rev. José
Manoel da Conceição, São Paulo – SP.
[Trabalho não Publicado].
[58] Costa, Hermisten Maia. P. da. Teologia sistemática: prolegômena. São Paulo – SP: Seminário Teológico
Presbiteriano Rev. José Manoel as Conceição, fevereiro de 2005. f. 42. Anotações parciais de aula da disciplina
Teologia Sistemática I (Prolegômena / Teontologia e Antropologia), ministrada
no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, São Paulo Capital. [Trabalho
não publicado]. [Cf.
também: Hermisten M. P. da Costa, A pessoa e obra do Espírito Santo, f. 46).
Um comentário:
Deus continue a te abençoar meu Hermano!!! Abraçoooo
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